Redação: mocinha ou vilã
20 de Maio, 2021
Não são raras as vezes em que o professor de redação presencia situações de pavor ou de fuga quando propõe uma redação aos seus alunos. Olhares enviesados, desculpas inimagináveis, narizes torcidos e momentos de angústia perante o que dizer diante da folha de papel em branco ou da tela do computador iluminada. É que por muito tempo, a redação serviu como instrumento de punição para a turma mais irrequieta ou agitada. Servia como uma moeda de troca: "Ou vocês fiquem quietos, ou vou dar uma redação no final da aula valendo nota", dizia o professor com o poder de fazer calar uma turma inteira.
O próprio autor deste texto foi vítima desse ensino coercivo e coercitivo da redação e os exemplos acima são apenas alguns de uma lista longa, a qual já foi estudada por pesquisadores e acadêmicos que denunciaram esta prática traumatizante e torturante da redação de outrora. O ensino tradicional da redação acabou por imputar-lhe a pecha de vilã.
Sempre fiel em seus três pilares (o acadêmico, o socioemocional e a inovação), o ensino de Produção de Texto no Colégio Anglo Morumbi assume uma concepção interacionista, funcional e contextualizada da linguagem "em situações de atuação social e através de práticas discursivas, materializadas em textos orais e escritos." (ANTUNES,2003).
Dessa forma, mais do que aprender técnicas de escrever textos, a disciplina Produção Textual busca formar nos alunos uma competência argumentativa, que a Profª Vera Maria Candau (2013) a define como:
A todo o momento nos encontramos em situações de argumentação em que opiniões, valores, crenças, ideologias diferentes podem acabar gerando algum tipo de conflito. Nesse sentido, defendemos que a primeira mudança rumo à formação da cidadania deve ser na linguagem, ou seja, na forma de comunicação com o outro. Dessa forma, é preciso desenvolver uma capacidade argumentativa que substitua a violência física e simbólica pelo poder do convencimento, da persuasão e não da manipulação e aniquilação do outro.
Portanto, o ensino de Redação e as práticas de linguagem se situam no campo da estratégia, da influência e da ação.
Partindo do princípio de que a escrita, por ser uma atividade interativa, implica uma relação colaborativa entre duas ou mais pessoas, o ensino de Redação- sobretudo nos anos finais do Ensino Fundamental- trabalha com situações reais de comunicação relacionadas aos diversos contextos sociais em que os interlocutores estão envolvidos. O ensino se dá por meio de gêneros textuais presentes no cotidiano sociocomunicativo dos usuários da língua- passando pelo gêneros orais, aos gêneros escritos surgidos com o advento das modernas tecnologias e redes sociais até os gêneros e tipos característicos dos processos seletivos para acesso às Universidades- como Enem, Fuvest, Unicamp, Unesp e outras. Contudo, as semelhanças e diferenças do tipo de redação nos processos seletivos do ensino superior é assunto para outro texto.
Dessa forma, os alunos aprendem a realizar um planejamento estratégico, com um objetivo a ser alcançado; mobiliza recursos linguísticos e argumentativos para atingir a finalidade da comunicação e negocia sentidos para garantir o efeito pretendido no receptor. Os alunos aprendem que a produção textual é um processo de adequação, de mobilização de estratégias para atingir a finalidade do ato comunicativo. Por essa razão, são utilizados diversos tipos de linguagem multimodais que são acionadas no momento de interação entre os interlocutores.
Assim como na vida, os alunos percebem que os sentidos da linguagem são interdependentes, são negociados entre os sujeitos envolvidos na comunicação. Com efeito, os alunos vão desenvolvendo a autoconfiança, a autoestima e a segurança na produção textual uma vez que percebem que a escrita envolve etapas de planejamento, operação e revisão.
Em suma, a disciplina Produção Textual tem como finalidade primordial transmitir ao aluno uma imagem de "mocinha", de "heroína" que vai lhe ajudar a ter sucesso e realização tanto no seu desenvolvimento pessoal quanto profissional, pois, defendemos o seguinte preceito: "Quem domina a língua, conquista o mundo".
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
CANDAU, Vera Maria(org.) Educação em Direitos Humanos e formação de professores. São Paulo: Cortez, 2013.
CAVALCANTE, Marcelo Cesar & SILVA, Rita de Cássia. ARGUMENTAÇÃO: UM DOS PILARES PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA. Revista Filosofia, Ciência e Vida. Disponível em: Portal do Saber.